
No dia 25 de abril de 1974, uma revolução orquestrada pelos capitães das Forças Armadas Portuguesas, que ficariam eternamente conhecidos como os “capitães de abril”, apoiado pela generalidade do povo português pôs fim aos 41 anos de regime do Estado Novo – um regime militar, autocrata e corporativista idealizado pelo Prof. António Salazar à altura liderado pelo Prof. Marcello Caetano. Desde então,o mês de abril tornou-se o símbolo da luta pela liberdade na cultura portuguesa.
A Revolução, que iniciaria um longo período de debate e embate político, levantava três grandes bandeiras: Democratizar, Descolonizar e Desenvolver. Nesse sentido, a Liberdade de abril pretendia-se estender também para à libertação dos povos colonizados, sendo que a história da colonização liga Portugal a um conjunto de países do qual faz parte o Brasil, e, para o Brasil, no ano de 1974, a simbologia de abril tinha um significado antagônico ao consagrado pelo povo português.
Veja-se o primeiro D – Democratizar. No dia 1 de abril de 1974, o povo brasileiro comemorara dez anos do seu primeiro dia na ditadura militar, instaurada em 31 de março de 1964. E mesmo quanto ao segundo – Descolonizar -, também a colonização, no Brasil, tem abril como símbolo já que a data mencionada como oficial do “descobrimento” do Brasil pelos colonizadores portugueses é o dia 22 de abril de 1500.
Ontem, na véspera do 25 de abril, tivemos mais uma oportunidade de relembrar estas e outras ligações entre a história dos dois países com a atribuição do Prêmio Camões a Chico Buarque. É importante lembrar que este foi impedido de o receber por quatro anos diante da recusa do anterior presidente da República brasileiro a assiná-lo. O mesmo cantor que, em 1973, dando voz às proféticas palavras de Ruy Guerra na canção fado tropical, cantou:
“Ó, musa do meu fado / Ó minha mãe gentil / Te deixo consternado, / No primeiro abril” (…) rematando “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal / Ainda vai tornar-se um imenso Portugal”
Se em 1973, o “primeiro abril” que tanto poderia remeter para a marco da colonização como para a marca da ditadura que era uma realidade em ambos os países, a partir do 25 de abril de 1974, passou de consternamento para esperança. A esperança de um segundo abril, dessa vez, de liberdade. Liberdade em Portugal e, futuramente, liberdade no Brasil com o 15 de março de 1985.
A todos, um Feliz Dia da Liberdade!